Meu nome é Tatiana e estudo na USP, campus “Luiz de Queiroz”. A ESALQ proporciona aos seus alunos diversos grupos de extensão que possibilitem desenvolver seus interesses. Desde que eu ingressei então, busco participar de grupos que eu possa vivenciar os conteúdos abordados em sala e colaborar com a comunidade.
Em 2017 entrei no MarkEsalq a partir do Agro Inclusão. Diante das minhas experiências de vida, disseram-me que eu poderia contribuir com esse braço do grupo. Interessei-me pelo projeto e hoje sou uma das diretoras do Agro Inclusão.
Moro da zona rural de Piracicaba e meus pais só foram a escola até a 4ª série. Na ESALQ, eu sou graduanda em Ciências Econômicas. Estudei a maior parte em escola pública. Depois que saí do ensino médio fui fazer curso técnico, pois não tinha certeza de qual profissão escolher e eu também estava aguardando algumas cirurgias.
Cresci querendo ser pedagoga ou fisiatra. Por fim, eu fiquei indecisa em fazer algo relacionado a física médica, jornalismo, neurociência ou economia. Optei mesmo em cursar economia devido as características da minha cidade e acreditava que o curso me daria ferramentas para estudar desde o impacto nas pessoas em decorrência da situação econômica do país, como sugerir possíveis medidas a serem tomadas que tornem a sociedade mais promissora e justa.
De 2012 a 2015 fiz cinco cirurgias consecutivas. Nos dois últimos anos, não consegui conciliar com minhas atividades. Entrei na faculdade em 2013, mas tive que trancá-la praticamente dois anos. Foram períodos de muito medo, de dor, de idas para São Paulo de ambulância várias vezes. E quando retornei a ESALQ, além da minha qualidade de vida ter melhorado, eu voltei ainda com mais força e resiliência.
Para ir a universidade, vou com a minha mãe. Tenho uma deficiência física provocada pela paralisia cerebral ao nascer e por isso eu uso cadeira de rodas. Dependemos dos elevadores dos ônibus e eles vivem quebrando, assim nunca sei se vou chegar no horário certo. Passamos por dificuldades no começo da escolarização. Demoramos para encontrar uma escola que me aceitasse e eu ainda não sabia manusear o lápis. Além disso, minha mãe me carregou até os dez anos, porque eu não tinha cadeira. Minha mãe sempre foi minha companheira. Apesar dos empecilhos nunca desistimos de seguir.
Frente as desigualdades do país, sei que faço parte dos outliers. Segundo o Censo 2010, as pessoas com deficiência correspondiam a 23,9% da população. E conforme o Inep, de 2004 à 2014 se aumentou a inserção delas no ensino superior, mas representavam apenas 0,42% (G1, 2016). As pessoas de forma geral não acreditam que embora haja limitações físicas há outras grandes potencialidades a serem valorizadas. Até hoje me perguntam com uma certa frequência se vou a “escolinha” ou dizem que estou na faculdade para me distrair, enquanto no meu pensamento discorre sobre minha situação em econometria. Sonho em que todas as pessoas tenham mais oportunidades e que eu possa abrir portas para os demais e inspirar a acreditarem num mundo maior que o seu. Se eu cheguei até aqui é por que um dia eu fiz isso. E eu ainda continuo.
Fontes:
G1. Cresce o acesso da pessoa com deficiência ao ensino superior no país. Disponível em: < http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2016/06/cresce-o-acesso-da-pessoa-com-deficiencia-ao-ensino-superior-no-pais.html> Acesso em: 22 de junho de 2018.
Vejam o Abre a Porteira dessa semana: Marketing de Causas, nele temos a Tati como entrevistada
Sobre a autora:
Tatiana Dezen
Graduanda em Economia na ESALQ/USP
Diretoria AgroInclusão
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