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A Propaganda Política na Era dos Extremos

As propagandas eleitorais estão presentes em nosso cotidiano a cada dois anos desde o início da república brasileira. Um caso marcante de propaganda eleitoral foi em 1960, na eleição de Jânio Quadros para presidente. Nesta campanha, o candidato, para explicitar as suas propostas políticas de governo, utilizou como marketing a criação de um jingle, com uma música curta, marcante e fácil de ser lembrada. Tal elemento relaciona-se com o conceito de Marketing 1.0, de Philip Kotler, visto que é focado em mostrar o “produto” a ser oferecido, de modo a atingir a maior quantidade de pessoas possível. Este fato auxiliou a sua vitória em primeiro turno (não existia segundo turno na época de sua eleição), ressaltando a importância do marketing eleitoral.


Anteriormente, é observado que as propagandas tinham o foco nas promessas políticas dos candidatos, produtos a serem oferecidos, que no caso de Quadros era a extinção da corrupção. Aos poucos, com o avanço da tecnologia, somado à percepção da população do não cumprimento de promessas políticas, este modo de propaganda se tornou ultrapassado. Com o passar dos anos, a população não mais decidia seu voto baseado em poucas informações, como as contidas em jingles, visto que o acesso à informação se tornou extraordinariamente maior no final do século XX. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, se tornou necessário muito mais para conquistar o apoio do povo, buscando a comoção emocional, posicionando o candidato e mostrando sua diferenciação, fato observado no Marketing 2.0, proposto por Kotler.



A partir dos anos 2000, uma grande polarização política começou a ser notada, dividindo os candidatos e partidos nos polos esquerda e direita. Neste contexto, o marketing passou a ser mais formalizado, com a contratação de empresas especializadas e de assessoria para promover os candidatos. Com a evolução dessa nova percepção política extremista, as propagandas não possuem mais o foco em informar o eleitor, e sim em atacar o lado oposto. Esses ataques, de ambos os lados, buscam descredibilizar o oponente, instigando o ódio da população para com os candidatos. Tal contexto propiciou a potencialização das Fake News, que buscam a manipulação das massas com base em fatos errôneos, cuja criação se dá exatamente para instigar o ódio, revelando o total desprezo da ética e da moral.

Na atualidade, são adotados elementos do Marketing 3.0, proposto pelo mesmo autor, como a proposição de valor espiritual. Para se relacionar com o público, políticos focam no compartilhamento de valores com este, entretanto, não são valores éticos, mas sim religiosos. A associação dos candidatos políticos com determinadas religiões ocorre, mesmo supostamente em Estado laico. Assim, visto que a eleição destes políticos acontece, toda a política do país se torna baseada em uma religião predominante, invalidando e desrespeitando a existência das demais.


Considerando o ano atual, ano eleitoral, a situação apenas se agravou. A extrema polarização tomou conta das massas. Um lado passa a demonizar o outro, e vice-versa. O lado oponente é visto como monstruoso, completamente sem humanidade, como se as próprias pessoas pudessem ser desprezadas apenas por uma escolha individual. Isso mostra a precarização da situação do ser-humano, com uma tribalização. Isso tudo nada mais é do que uma estratégia de marketing eleitoral. Para os políticos, essa identificação com a tribo é boa como propaganda para si, trazendo mais votos. Quanto mais a sociedade perde a empatia, mais interessante é para estes candidatos.



Não se pode esquecer que na era digital, a informação é muito mais rápida, e a política é discutida nas redes sociais. As redes passaram a se tornar um modo de oprimir pessoas de lados opostos. Os usuários de tais redes se mascaram em perfis falsos para ofender pessoas, desrespeitando sua liberdade individual. Novamente é explícita a tribalização, que se une para atacar o inimigo, como seres primitivos.


Por fim, é entendida que tal polarização se trata de mais uma estratégia de marketing eleitoral, beneficiando os candidatos, mas com consequências muitas vezes trágicas para a sociedade. Desta forma, é perceptível a evolução do marketing, visto que esse passou do Marketing 1.0 para o Marketing 3.0, acelerando cada vez mais seu progresso, dado que este agora consegue controlar as massas populacionais. Entretanto, a involução da população também ocorreu, promovendo um comportamento precário e a perda do fator humano.


Giuliana Ucelli Simioni




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